terça-feira, 27 de dezembro de 2011

REVEILLON

Tanto champanhe na mesa e você aí, na janela, acesa. A lua lhe veste bem. Aperta sua silhueta com riscas prateadas em seus seios e coxas. Na cama, presumo estar pensando no ano rompido ou, talvez, no último estampido dos fogos de 01 de Janeiro. "Venha para cama, amor" - disse a você, talvez não por querer, e sim por ciúmes daqueles pensamentos que a distanciavam, por ora, de mim. E não obstante, ignorou-me. Sentou-se na sacada da varanda, sorrindo. O vento beijava-lhe as faces... ou seriam os pingos de chuva que agora riscavam o seu rosto? Não me lembro bem... tocava algo na rádio do nosso vizinho que enviuvara semana passada. Parecia a voz de Maysa ou Dolores Duran. Sim, era Dolores Duran!Ouvimos em silêncio. Eu, você e seus pensamentos. A música tinha gosto de saudade. De repente, como uma criança assustada, veio correndo para a cama e se afundou nos meus braços; agora ostentando cabelos grisalhos e um rosto marcado pela chuva e pelo tempo lá fora. Beijou-me mais madura e encostou minhas mãos contra os seus seios, esses não tão firmes quanto os da varanda; porém, ainda harmoniosos e suaves. Você dormiu após alguns afagos no escuro. Então, me levantei cuidadosamente - para que não acordasse - e fui até a varanda. Encontrei seus pensamentos ainda ali, intactos pelo tempo e pelas Quarenta Luas.Cumprimentei, mesmo sem conhecê-los. E, com aquele saudosismo que só velhos amigos e amantes conhecem, os tive como meus...como se todo esse tempo fossem meus... e não seus.

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